A doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) e o tabagismo
A bronquite crônica e o enfisema pulmonar, doenças englobadas pela denominação de doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC), encontram no hábito de fumar o seu principal fator de risco. Como a maioria dos indivíduos que a desenvolvem apresentam tanto a bronquite crônica quanto o enfisema pulmonar em proporções variadas, a doença é designada de DPOC. A prevalência da DPOC no mundo, em 1990, foi estimada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 9,3/1000 nos homens e 7,3/1000 nas mulheres. Ocorre em torno de 15% dos tabagistas e aproximadamente 9% da população acima de 40 anos No Rio Grande do Sul, um estudo realizado na cidade de Pelotas revelou uma prevalência de 12,7% na população tabagista acima de 40 anos. Nesta época, 39% destes indivíduos avaliados eram tabagistas. Em 2001, repetiram o mesmo estudo e encontraram 7,9%, mas também observaram que a prevalência do tabagismo na população estudada havia caído para 26%. Mais recentemente, a mesma pesquisadora que realizou este estudo em Pelotas, o fez na América Latina e encontrou a menor taxa da doença no México (7,8%) e a maior no Uruguai (19,7%). O Brasil apresentou uma prevalência de 15,8%. A Organização Mundial da Saúde estima que a DPOC será em todo o mundo, no ano de 2020, a quinta condição em termos de impacto de saúde. Em 1990, ocupava a 12ª. posição. Segundo dados do DATASUS - Ministério da Saúde, o número de internações por bronquite, enfisema e asma em pacientes com mais de 40 anos aumentou 29,5% de 1992 para 1997. No ano de 2000 as doenças do aparelho respiratório foram a segunda causa de internações hospitalares no SUS, na faixa etária superior a 40 anos, sendo responsáveis por 16,6% do total de 697 044 hospitalizações. O tempo médio de internações devido a DPOC foi de 5,7 dias, com um custo médio de R$ 431,40, determinando um custo total de internações na rede SUS por DPOC no ano de 2000 de R$ 102 894 787,31.
- O que é o enfisema pulmonar?
O enfisema é uma doença em que a parede dos alvéolos normais são destruídas. Esta destruição ocasiona verdadeiros "buracos" que irão reter maior quantidade de ar. O ar ficando aprisionado, determina um aumento do tamanho dos pulmões, ocasionado o que se conhece por hiperinsuflação pulmonar. Esta hiperinsuflação rebaixa o músculo que separa a caixa torácica do abdome, denominado músculo diafragma, que progressivamente vai atrofiando sua fibras porque quase não consegue se movimentar. Como este músculo é responsável pela maior parte da nossa inspiração, fica mais difícil de respirar e, por isso, surge a falta de ar. Quando a parede dos alvéolos é destruída, os vasos sanguíneos também o são e com isso diminui a captação do oxigênio. A maior causa do enfisema é o tabagismo. No entanto, algumas pessoas podem nascer com características genéticas que determinam a falta de uma enzima (alfa 1- antitripsina) e independente de terem fumado podem desenvolver a doença. Esta condição é rara.
- O que é a bronquiste crônica?
Quando uma pessoa que fuma tosse e produz catarro na maioria dos dias de três meses seguidos, durante dois anos consecutivos ou mais, é considerada portadora de bronquite crônica. A produção de catarro é secundária ao aumento das glândulas que produzem o muco. A função do muco é limpar os pulmões das substâncias inaladas no dia-a-dia. Com o uso do fumo, os cílios que fazem a limpeza são destruídos. As glândulas passam a produzir maior quantidade de muco, que se acumula e torna os brônquios um meio favorável para o crescimento de bactérias. Nestes casos existe a produção persistente de catarro, que poderá alternar a coloração, variando de uma cor mais clara até o amarelado ou esverdeado. Quando isso ocorrer, geralmente indicará a presença de uma infecção, que deverá ser tratada pelo médico.
- O que acontece com quem desenvolve a DPOC?
Durante longos anos de tabagismo nada se percebe. A maioria das pessoas procura o médico no momento em que perceberam a dificuldade para realizar as atividades cotidianas de vida diária, tais como: varrer o pátio e a casa, tomar banho, subir escadas, etc. Tudo isto acontece pela limitação ao exercício físico que decorre da progressão da doença. Todos esses sintomas levam a incapacidade ao longo do tempo. Na maioria das vezes começam de maneira leve e a maioria dos indivíduos atribui o cansaço a falta dos exercícios físicos. A progressão da doença faz com que a falta de ar aumente para qualquer esforço e isto modifica a qualidade de vida de maneira drástica. À medida que a doença vai se instalando ocorre um ciclo vicioso em que a pessoa não realiza suas atividades diárias por medo de ter falta de ar. Isto diminui ainda mais a capacidade para o exercício, tornando-o cada vez mais inativo.
- Como um tabagista pode ficar sabendo se tem a doença?
A primeira coisa a fazer é consultar o pneumologista. Após a entrevista médica onde se buscam subsídios clínicos (história e exame físico) da doença, o paciente realiza um teste de função pulmonar denominado espirometria. Este exame simples, que basta soprar através de um aparelho, define quem tem e quem não tem DPOC. O Rx de tórax e a tomografia computadorizada também auxiliam.
- Como é o tratamento desta doença?
O tratamento é dividido em tratamento farmacológico e não farmacológico. O farmacológico consiste no uso dos broncodilatadores. Os antibióticos ficam reservados para as situações de piora, denominadas exacerbações infecciosas. O principal tratamento não farmacológico para pacientes estáveis é a reabilitação pulmonar.
- O que é a reabilitação pulmonar?
A reabilitação pulmonar é uma abordagem multidisciplinar que tem como objetivo melhorar a qualidade de vida do paciente portador de uma doença pulmonar crônica. Focaliza todos os aspectos que estão envolvidos nos cuidados destes pacientes, tais como: as medicações, o condicionamento físico, a avaliação e intervenção psicológica quando necessária, a educação e a prevenção de doenças. Devido ao alto custo das hospitalizações, o potencial de redução dos dias de internação, bem como a redução das internações deste grupo de pacientes, parece ser viável. Esta modalidade visa, através da intervenção de vários profissionais da saúde, oferecer um conhecimento maior sobre a doença e suas repercussões, permitindo ao paciente uma melhor qualidade de vida. A formação deste grupo pode incluir o pneumologista, cardiologista, fisioterapeutas, enfermeiros, psicólogos e /ou psiquiatras, nutricionistas, terapeutas ocupacionais e assistente sociais. Os pacientes que são candidatos a reabilitação são portadores de doença de moderada a grave intensidade que afetam a execução das atividades de vida diária. Embora pacientes com níveis mais leves de doença possam ser selecionados para o programa, a alocação de recursos deve beneficiar aqueles portadores de doença mais grave. Os pacientes selecionados devem estar altamente motivados, uma vez que serão exigidos com relação ao tempo e a realização de exercícios físicos para treinamento. A maioria dos programas duram de oito a dez semanas, com no mínimo três sessões semanais, com duração de uma a três horas. O paciente deve estar estável da sua doença de base e livre de outras comorbidades que o impeçam de participar do programa.
- Onde estão disponíveis estes programas?
Quando o indivíduo acessa o site www.dpoc.org.br, da associação brasileira dos portadores de DPOC ele encontra todos os locais para realizar reabilitação pulmonar no país. No nosso estado, este serviço está disponível no Pavilhão Pereira Filho - Santa Casa de Porto Alegre, no Hospital Nossa Senhora da Conceição, Hospital de Clínicas de Porto Alegre e Centro Universitário Feevale de Novo Hamburgo.